Manifesto
There are no translations available.
A necessidade cada vez mais premente sentida na conservação do património artístico nacional muito mais do que essencial deve ser prioritário, como membros de uma sociedade europeia que há décadas se preocupa com este assunto, Portugal continua a remeter as questões do património para o fim das listas de qualquer intervenção ou a entregar este trabalho a conservadores irresponsáveis que em vez de deixarem as nossas riquezas patrimoniais sofrerem uma “morte lenta”, defendem a “eutanásia cultural” como uma “acção de piedade” inútil e irresponsável, que em nada abona a favor do nosso ‘orgulho’ português!
No Restauro, o restaurador deve ser um artista porque a sua acção é afim da Arte, intervindo na obra mantendo de forma consciente as suas qualidades estéticas originais e significados, daí ressalvar a supra importância de nunca dissociarmos o acto de restaurar de disciplinas como a História, a História de Arte, a Sociologia, a Teologia e outras disciplinas Humanas, pois só poderemos valorizar o passado e as suas representações iconográficas preservando a sua origem e originalidade representativa e compreendendo-as.
É de “chorar a alma” quando nos meus inúmeros passeios espaciais pela nossa história comum verifico as atrocidades que se vão cometendo contra os nossos ascendentes e curioso, contra a nossa herança colectiva. Mais me chocam as explicações de gente acéfala que responde pelo trabalho ou pelos locais de forma incoerente ao nosso tempo e ao descrédito a que condenam tão valoroso trabalho, o qual deve ser feito com paixão, tenacidade e orgulho.
Falarmos em custos e apresentar os números como justificação para trabalhos menores de qualificação de qualquer obra de arte serve apenas como meio de distracção para um público menos atento, para tal basta inteirarmo-nos dos custos de uma simples intervenção caseira, para nos apercebermos que não será aqui que reside o problema. Pelo contrário, será preferível deixarmos as coisas tal como estão. Exemplo disto que falo é o crime que sistematicamente é cometido em relação à talha dourada que simplesmente aniquilam com pinturas completas e radicais com produtos como a simples purpurina!
Cabe aos responsáveis autarcas, representantes da Igreja, políticos, profissionais e cidadãos comuns gritarem ‘Basta!’, basta de atentar a uma das maiores riquezas do nosso país que tanto podem trazer para as populações, contando com o turismo como uma forma de rendimento material e espiritual.
Não podemos continuar de costas voltadas ao património nacional. Então, rogo a todos que prestem atenção ao que se vai fazendo por este Portugal e que exijam responsabilidade e empenho nos trabalhos de conservação e restauro para também deixarmos uma herança insubstituível da nossa passagem terrena, digna e empenhada, para podermos sorrir para os nossos filhos e alimentar-lhes a alma!
Sabemos que não pode ser só isto, isto de andar por cá sem haver mais, mas não sabemos mais nada.
Acreditamos que haverá eternidade, algo que nos permita ser para além do ser. Algo que nos permita acreditar para além do viver. Alguns de nós acreditamos num Deus, outros num Buda, outros no poder da Lua, dos Astros que observamos à noite, outros em Entidades repletas de energia.
Somos humanos, perecíveis mas cheios de dúvidas e medos do caos ou da ordem.
Trabalho e actuo sobre a crença pessoal e colectiva, interponho técnicas e materiais entre o que vejo, sinto ou toco. Do resultado, mostro o que a minha arte e talvez a minha visão de uma parte do todo que não me pertence mas que agarrei para mostrar que afinal somos múltiplos, únicos e insubstituíveis.
Para mim, creio no Belo, na Cultura, no que criamos, porque no fundo a nossa Pedra Filosofal existe em cada um de nós.
Concluo, deixando-vos a ideia de um conservador / restaurador que pela técnica e conhecimentos adquiridos, se prolonga à comunidade, ministrando e comunicando com o ente social que estabelece vivências, crenças… memórias.
Vieira Duque